sábado

" –  Não é neste sentido que estou a falar. Pergunto: o que será do pomar quando eu morrer? Sem mim, não vai aguentar nem um mês no estado em que o vês agora. O segredo do êxito não consiste em o pomar ser grande e ter muitos trabalhadores, mas no gosto que eu tenho pelo meu ofício, estás a entender? Gosto talvez mais do meu trabalho do que de mim. Olha para isto: faço tudo com as minhas próprias mãos. Trabalho de manhã à noite. Faço toda a enxertia, as podas também faço eu, também planto, faço tudo eu. Quando me ajudam fico invejoso e irrito-me até à grosseria. Todo o segredo está no amor, ou seja, no olhar atento do dono, nas mãos do dono, a um ponto tal que, se vou visitar alguém e fico lá uma horita a tomar chá, tenho apertos de coração, não estou bem: tenho medo que aconteça alguma coisa ao pomar. Ora, quando eu morrer, quem vai cuidar dele? Quem vai trabalhar? O jardineiro? Os jornaleiros? Achas? Ouve então o que tenho para te dizer, querido amigo: o inimigo principal do nosso trabalho não é a lebre nem o bicho, nem a geada, mas os estranhos."


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