quarta-feira

Bolas

"Mas, sobretudo, ao falar dos meus gostos que não mais mudariam, do que estava destinado a tornar a minha vida feliz, insinuava em mim duas suspeitas terrivelmente dolorosas. A primeira era de que a minha vida tinha já começado (quando todos os dias me considerava como que no limiar da minha vida ainda intacta, e que só começaria no dia seguinte de manhã), mais ainda, que o que se ia seguir não seria muito diferente do antecedente. A segunda suspeita, que a bem dizer não passava de outra forma da primeira, era de que não estava situado fora do Tempo, antes sujeito às suas leis (...) Teoricamente sabe-se que a terra gira, mas de facto não damos por isso, o chão que pisamos parece que não se mexe e vivemos tranquilos. É o que se passa com o Tempo na vida."



2 comentários:

josé luís disse...

marcel duplay, um dos amigos de proust, conta que o que marcel mais gostava de fazer, quando atacado por insónias, era ler o horário dos comboios.
saber que um rápido partia de st. lazare às 06.42, paasando por vernon às 07.23 e chegando a le havre pelas 08.51 não interessava nada a um homem que não tinha saído de paris nos últimos oito anos da sua vida - mas o horário era "um tempo de vida", a sucessão das estações um romance arrebatador sobre o quotidiano fora de uma grande cidade, pois em cada lugar a sua imaginação permitia-lhe visualizar dramas conjugais, artimanhas autárquicas e cenas da vida doméstica campestre.

(há muito sol à sombra das raparigas em flor)

Beatrix Kiddo disse...

Giro! E o Marcel tb deve ter apanhado muito sol na cabeça. Eu quando apanho muito sol e se olhar para o sol alguns segundos, depois se olhar para o lado vejo a Nossa Senhora de Fátima.

vou ler os horários dos aviões que saem do Porto