quinta-feira

Se o Wenders diz...

Estes dois links ficam aqui guardados só porque sim (consultas futuras):
brecht - post-joao-lopes
ohomemquesabiademasiado - Educação da Imagem Wenders

"Ó Wenders como é que se diz "vai buscar" por extenso?...Ele diz que é equivalente a estas duas páginas:"

"Não gosto da manipulação que é precisa para encaixar todas as imagens de um filme numa história; é muito perigosa para as imagens, pois absorve tendencialmente o que há de 'vida' nelas. Na relação da história com a imagem, a história assemelha-se, para mim, a um vampiro que tenta sugar o sangue da imagem. As imagens são muito susceptíveis, um pouco como os caracóis, que se recolhem quando lhes tocamos nas antenas. Não querem trabalhar como um animal de carga. Não querem levar nem transportar nada: nem mensagem, nem objectivo, nem sentido, nem moral. As histórias é que querem isso.
As histórias dão às pessoas a sensação de que há um sentido, de que por detrás da confusão incrível de todos os fenómenos que as rodeiam se esconde uma ordem e uma sequência últimas. As pessoas desejam essa ordem mais do que tudo o resto: quase se diria que a concepção de ordem e de história se relaciona com a concepção de Deus. As histórias são o substituto de Deus. Ou vice-versa. Pessoalmente (e, exactamente por isso, tenho problemas com as histórias), acredito mais no caos, na complexidade inexplicável de todos os acontecimentos à minha volta. No fundo, penso que as situações isoladas não estão relacionadas umas com as outras e as experiências, na minha vida, consistem sempre e apenas em situações isoladas; nunca encontrei uma história com princípio e fim. Para alguém que conta histórias, isto é francamente um pecado, mas tenho de confessar que não presenciei, durante toda a minha vida, uma única história. Na realidade, julgo eu, as histórias mentem, ou melhor, são, por definição, histórias de mentiras. Mas são muito, muito importantes como formas de sobrevivência. Com a sua estrutura artificial, ajudam as pessoas a vencer os seus grandes medos: o medo de que não haja Deus e de que elas sejam apenas criaturinhas muitíssimo pequenas, flutuantes, dotadas de percepção e de consciência, mas perdidas num universo que excede todas as suas concepções. Rejeito totalmente as histórias, porque elas produzem exclusivamente mentiras, nada mais do que mentiras e a mentira maior reside no facto de estabelecerem um contexto onde não existia nenhum. Por outro lado, no entanto, precisamos tanto dessas mentiras que é perfeitamente absurdo atacá-las e ordenar uma sequência de imagens sem a mentira de uma história. AS histórias são impossíveis, mas não podemos, contudo, viver sem histórias."


2 comentários:

Tolan disse...

Isso é do Wenders? é pena ele ter-se tornado num realizador solipsista, repetitivo, banal, presunçoso e cliché. Os melhores filmes dele tinham uma história.

mas não percebi bem se foi ele que o disse :)

quem consegue uma abordagem extrema nisso dos fragmentos é o David Lynch, mas ele é um génio (ainda é).

Beatrix Kiddo disse...

5 defeitos?? o wenders?? snif...

não sei no que ele se tornou, sei que gostei dos filmes que vi dele (um bom punhado deles). Os mais recentes não vi acho.

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