quinta-feira

no centro exacto do Universo

"Num estado de espírito mais sereno, compreendo que Jack não é a pessoa indicada para o género de perguntas que tenho em mente. Para começar, seria preciso um dia inteiro para obter uma resposta, isto presumindo que ele não ignorava por completo a resposta. Fazer uma pergunta ao Jack é como meter uma moeda numa máquina de discos automática. Há uma pausa, às vezes uma pausa que parece uma eternidade, durante a qual podemos ouvir a nossa pergunta ser remetida para o aparelho primordial de pergunta-resposta que se encontra oculto no centro exacto do Universo. Leva uma eternidade para a pergunta chegar à fonte, como eu disse, e outra eternidade para a resposta fazer a viagem inversa e chegar aos lábios de Jack, que geralmente começam a tremer antes de ele ser capaz de articular as palavras. Esta é uma idiossincrasia que me agrada no Jack. Ao princípio pensei que era ele a tentar mostrar-se difícil, a tentar tomar as coisas mais complexas do que naturalmente são. Mas não tardei a descobrir que estava enganado. O que importa saber a respeito do Jack é que ele dedica a tudo a mesma e igualmente séria consideração. Se lhe mostramos uma porta que não está em condições, ele olha-a, examina-a de todos os ângulos possíveis, medita um bocado, coça a tola e depois diz: «Parece uma operação de grande envergadura». O que significa que talvez tenhamos de deitar a casa abaixo para pôr a porta a prumo. Mas para Jack deitar uma casa abaixo não é nada."


2 comentários:

Francisco Martins disse...

Deus! o Jack sounds like um amigo meu. às vezes tanto perfeccionismo irrita-me confesso, especialmente quando não temos tempo para tal. Essa coisa de deitar a casa abaixo para arranjar a porta soa-me tãoooo familiar... Falta de sentido prático, credo! :P

Adorei o texto e escolhes sempre imagens óptimas :)

Paulo Assim disse...

Henry Miller, um dos meus.