"— Cala-te, senão não digo mais nada. Ris demasiado alto e vão supor que almoçámos de mais. Na quinta-feira passada, eu passeava sobre o terraço dos Feuillants, sem pensar em nada. Mas ao chegar à grade da Rua Castiglione, por onde contava ir-me embora, encontrei-me frente a frente com uma mulher que, se não me saltou ao pescoço, foi dominada, suponho, menos por respeito humano do que por um desses espantos profundos que prendem os braços e as pernas, descem ao longo da espinha dorsal e param na planta dos pés para vos fixar ao solo. Eu produzi muitas vezes efeitos desse género, uma espécie de magnetismo animal que se torna muito poderoso quando as relações são respectivamente entrelaçadas. Mas, meu caro, não era nem uma estupefacção nem uma rapariga vulgar. Moralmente falando, o seu rosto parecia dizer: «O quê? Eis-te, meu ideal, ser dos meus pensamentos e dos meus sonhos ao deitar e ao acordar. Como é que estás aí? Porquê esta manhã? Por que não ontem? Toma-me, pertenço-te, etc.!» «Bom, dizia a mim mesmo, mais uma!» Examinei-a então. Ah, meu caro, fisicamente falando, a desconhecida é o ser mais adoravelmente mulher que eu encontrei até hoje. Ela pertence a essa variedade feminina a que os Romanos chamavam fulva flava — a mulher de fogo. Em primeiro lugar, o que me impressionou, aquilo que ainda me tem preso, são os seus olhos amarelos como os dos tigres: um amarelo de ouro que brilha, ouro vivo, de ouro que pensa, de ouro que ama e quer absolutamente vir para o nosso bolso.
— Nem nós conhecemos outra coisa, meu caro! — gritou Paul. Ela vem algumas vezes aqui. É a Rapariga dos olhos de ouro. Demos-lhe esse nome. É uma jovem com cerca de vinte e dois anos que eu vi aqui no tempo dos Bourbons, acompanhada de uma mulher que vale cem mil vezes mais do que ela."
Sem comentários:
Enviar um comentário