segunda-feira

"Quando Ada fez quinze anos e começou a ficar atraente, a tia começou a ter-lhe uma profunda aversão. Ada respondia com insolência; era a sua melhor arma desde a infância. Por mais estranho que parecesse, a única coisa que conseguia travar as iras da tia era uma réplica certeira e inteligente, tão impertinente quanto possível. Mas Rhaíssa não lhe ficava atrás; tinha sempre a língua afiada, e até agradecia à sobrinha a oportunidade de lhe dar uso, tal como o duelista profissional se alegra por ter diante de si um adversário à altura. Infelizmente, tinha o defeito habitual das mulheres: ficava inebriada com a vitória. Com ela, as discussões nunca acabavam; dotada de uma memória implacável, misturava os agravos antigos com os novos, o que a levava a repisar e a ampliar incansavelmente os mesmos assuntos, variando contudo os termos com uma verdadeira consciência artística, como a vespa que anda a zumbir à nossa volta depois de nos ter espetado o ferrão. A sobrinha fazia-lhe frente, mas refugiava-se sobretudo e cada vez mais numa vida interior tão profunda e estranha que nada a podia realmente ofender ou humilhar."




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