quinta-feira

Pensava no preço que a vida cobra por bens insignificantes

"Sabia por experiência que, quando temos os nervos em franja, o melhor remédio é o trabalho. É preciso a gente sentar-se à mesa e obrigar-se, custe o que custar, à concentração numa ideia qualquer. Tirou da sua pasta vermelha um caderno em que fizera o esboço de um pequeno trabalho de compilação, concebido para o caso de se aborrecer na Crimeia. Sentou-se à mesa e, logo que começou a elaborar o resumo, pareceu que lhe voltava o estado pacífico, submisso e indiferente. O resumo levou-o, até, a reflexões sobre a vaidade humana. Pensava no preço que a vida cobra por bens insignificantes ou muito vulgares que dá à pessoa. Ele, Kóvrin, por exemplo, para lhe ser dada uma cátedra quase aos quarenta anos, para ser um professor catedrático vulgar e expor numa linguagem mole, enfadonha e pesada ideias banais e ainda por cima alheias – numa palavra, para alcançar a posição de um cientista medíocre, precisou de estudar quinze anos; trabalhar dia e noite, sofrer de uma grave doença mental, ter um casamento infeliz e fazer muitas asneiras e injustiças, de que seria mais agradável nunca se lembrar. Kóvrin tinha agora a plena consciência de ser medíocre e de bom grado se resignava com o facto, porque, na sua opinião, cada qual devia estar satisfeito com o que era."





2 comentários:

Daniel Carrapa disse...

Um comentário para saudar o maravilhoso gif do The IT Crowd.

Beatrix Kiddo disse...

Obrigada :) Nunca vi a série