"– Porque é que me mandou um presente há uns anos? – perguntou-lhe ele de repente, não com coqueteria ou brusquidão, mas estranhamente angustiado. – Porquê essa loucura?
– Não sei. Tive vontade de o fazer.
– Que loucura! – repetiu Harry.
Desta vez, Ada não se perturbou. Olhou-o com uma expressão triste e pensativa.
– Não pode imaginar o que você tem representado para mim...
– Mas isso foi... lá na nossa terra... há muito tempo.
– Sim, mas lá... o que aconteceu ali é talvez mais importante do que você pensa, mais importante do que tudo o resto, do que a sua vida aqui, do que o seu casamento... Nós nascemos lá, é lá que estão as nossas raízes...
– Quer dizer, na Rússia?
– Não. Mais longe... num lugar mais profundo...
– Não é num lugar nem num clima qualquer da Terra – murmurou Harry –, mas uma maneira especial de amar, de desejar...
– O que é que desejou mais neste mundo?
– A mulher com quem me casei. E você?
– Conhecê-lo.
– Se o desejou com tanta força, tão em vão como eu desejei ter Laurence – disse Harry em voz baixa –, então lamento por si.
– Em vão? Porque? Obteve o que queria.
– Sim – respondeu ele com certa amargura –, como se possui um objecto reflectido num espelho, uma imagem, uma sombra que não se pode agarrar, nem...
Fez uma pausa
– Não faça caso. Eu peço o impossível. A verdade é que sou feliz."
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