segunda-feira

Agora não o vou ressuscitar por uma bagatela

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...


Tenho saudades do Bergman...
Poema roubado daqui

8 comentários:

Jamil P. disse...

já assisti um zilhão de vezes essse filme, é um dos meus preferidos ever!

esta semana começará uma mostra maravilhosa de bergman aqui; se você tiver interesse, pode baixar o catálogo gratuitamente neste site; recomendo, tá muito bacana http://www.mostraingmarbergman.com.br/

ah, ainda não vi stalker do tarkovsky, vou ver se encontro.

=*

R disse...

Vou seguir este blog :) boa noite.

Plasticine disse...

Lindo! E eu vou roubar daqui!

via disse...

bergman, e a máxima lucidez como máxima fuga.

Gabriela disse...

Olá Beatriz! Uma vez você visitou meu blog, mas parei de postar e só agora voltei! Espero que passe por lá!
Amo Bergman!!

Um abraço

Mónica disse...

há um poema de jaime salazar sampaio q te diria que isso não é morrer é fazer batota

(procurei-o pela net mas n encontrei, mas fiquei a saber q morreu, o unico poeta q gosto)

Rui Gonçalves disse...

As saudades, no meu caso, curam-se com a visão dos filmes em DVD (à falta de melhor, vê-se em casa)...

Patrícia disse...

Adorei o poema.