quinta-feira

Em cada cem pessoas

"Em cada cem pessoas:
sabendo de tudo mais do que os outros:
- cinquenta e duas,

inseguras de cada passo:
- quase todas as outras,

prontas a ajudar
desde que isso não lhes tome muito tempo:
- quarenta e nove, o que já não é mau,

sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:
- quatro; enfim, talvez cinco,

prontas a admirar sem inveja:
- dezoito,

induzidas em erro
por uma juventude afinal tão efémera:
- mais ou menos sessenta,

com quem não se brinca:
- quarenta e quatro,

vivendo sempre angustiadas
em relação a alguém ou a qualquer coisa
- setenta e sete,

dotadas para serem felizes:
- no máximo vinte e tal,

inofensivas quando sozinhas
mas selvagens quando em multidão:
- isso, o melhor é não tentar saber nem mesmo aproximadamente,

prudentes depois do mal estar feito:
- não mais do que antes,

não pedindo nada da vida excepto coisas:
- trinta, mas preferia estar enganada,

encurvadas, sofridas,
sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas
- mais tarde ou mais cedo, oitenta e três,

justas
- pelo menos trinta e cinco, o que já não é nada mau,

mas se a isso juntarmos o esforço de compreender
- três,

dignas de compaixão:
- noventa e nove,

mortais:
- cem por cento,

número que, de momento, não é possível alterar."



O texto viajou assim: Wislawa Szymborska > Carlos Vaz Marques > Menina Limão > Eu


4 comentários:

zozô disse...

Fantástica, a foto!

Guilherme Pereira de Araújo disse...

Gosto do Walt...e cálo-me frequentemente perante a liberdade dele, perante a morte dele, perante a vida de todos nós que ele disse ... ainda era tão cedo....

Windtalker disse...

Notável!...
Mais que muitos em cada cem estão horrivelmente desconfortáveis!...

Mónica disse...

tava a pensar q isto em diagrama de ven era mais fácil de compreender kekekekke