sábado

Pela sua vida julgava a dos outros

"Tinha duas vidas: uma publica, à vista de todos e conhecida por todos os que precisavam de a conhecer, uma vida cheia da verdade convencional e da mentira convencional, igualzinha a vida dos seus amigos e conhecidos, e tinha outra vida — a secreta. Então, em consequência de um jogo estranho de circunstâncias, talvez casual, tudo o que para ele era importante, interessante, necessário, o cerne da sua vida, passava-se às escondidas dos outros, e tudo o que era a mentira da sua vida, o invólucro onde se metia para não mostrar a verdade, como o serviço no banco, as discussões no clube, a «raça inferior», as idas com a mulher aos jubileus - estava à vista. Pela sua vida julgava a dos outros, pelo que nunca acreditava no que via mas desconfiava sempre de toda e qualquer pessoa, sob o véu do segredo, sob a capa da noite, vivia uma vida verdadeira, a sua vida mais interessante. Cada existência pessoal assenta num segredo, e talvez seja por isso, pelo menos em parte, que o homem moderno se preocupe tanto e tão nervosamente em que o seu segredo pessoal seja respeitado."

 Imagem daqui

2 comentários:

Jamil P. disse...

Aqui tá havendo uma mostra maravilhosa de Escher. A imagem lembrou-me uma litografia famosa dele.
Bom final de semana, beijos!

Mónica disse...

n sei o contexto mas concordo "que o homem moderno se preocupe tanto e tão nervosamente em que o seu segredo pessoal seja respeitado" como se isso fizesse o mundo rodar