"Anna Sergueevna não lhe aparecia em sonhos, antes andava atrás dele por todo o lado, como uma sombra, e olhava para ele. Bastava-lhe fechar os olhos para a ver, como em carne e osso, e parecia-lhe mais bonita, mais jovem, mais meiga; ele próprio se via melhor do que tinha sido naqueles dias, em Ialta. Quando caía a noite, ela olhava-o do armário dos livros, da lareira, de um canto, ouvia-a respirar, o terno roçagar do seu vestido. Na rua, seguia as mulheres com os olhos, a procura de alguém que se parecesse com ela...
E já não o deixava em paz um desejo forte de partilhar com alguém as suas recordações. Ora, em casa era-lhe impossível falar de amor, fora de casa não havia com quem. Claro, não podia ser com os inquilinos ou no banco. E também, falar de que? Será que a amava mesmo, naquela altura? Havia alguma coisa de belo, de poético, de edificante, ou simplesmente de interessante, nas suas relações com Anna Sergueevna? E assim se via obrigado a falar de um amor indefinido, das mulheres, sem ninguém adivinhar aonde queria ele chegar."
The one and only Daniel Day-Lewis
2 comentários:
E se fosse concretizado? Já sabemos, o amor mudaria de objeto, porque ele é um só e está todo dentro dele.
gosto do daniel day-lewis no filme sobre um escritor irlandês deficiente, impressionante
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