sexta-feira

O prazer que tomba, tomba para todo o sempre

"Havia outrora um eléctrico branco que fazia o serviço entre Bayone e Biarritz; no Verão, atrelava-se-lhe uma carruagem toda aberta, sem ilhargas: era a «baladeuse». Grande animação, toda a gente queria viajar nela: ao longo duma paisagem pouco carregada, gozava-se ao mesmo tempo o panorama, o movimento e a aragem. Hoje já não existem nem a «baladeuse» nem o eléctrico e a viagem é uma estopada. Não se trata com isto de embelezar miticamente o passado, nem de afirmar as saudades duma juventude perdida, fingindo-se que se lamenta um eléctrico. Isto é para dizer que a arte de viver não tem história: não evolui: o prazer que tomba, tomba para todo o sempre, não é substituível. Outros prazeres vêm, que não substituem nada. Não há progresso nos prazeres, há apenas mutações."



1 comentário:

teresa disse...

Gostei muito do post e, como tal, não podia deixar de comentá-lo. É certo que nada se repete, o que não significa forçosamente que a novidade seja desinteressante. Trata-se isto também do deslumbramento da vida, do tal carpe diem. Viver exclusivamente de memórias é sem dúvida «um lugar estranho», enterrá-las parece empobrecer-nos. Sem dúvida que encontrei coincidência com o post que hoje deixei, mas o interessante é o facto de constatações idênticas poderem ser expressas de modo diverso, através de toda a riqueza do código que é a linguagem:)