quarta-feira

Não gosto do meu nome popular. Parece-me que me enganou

"É ridícula para mim a ingenuidade com que, na minha passada juventude, eu exagerava a importância do renome e da situação privilegiada de que, supostamente, gozam as celebridades. Agora tenho esse renome, o meu nome é pronunciado com veneração, o meu retrato saiu tanto na Niva como na Vsemírnaia Illustrátsia, li mesmo a minha biografia numa revista alemã - e então? Estou sozinho numa cidade estranha, sentado numa cama alheia, esfrego com as mãos a bochecha dorida...Desavenças familiares, credores impiedosos, empregados dos caminhos-de-ferro mal educados, confusões no sistema de passaportes, comida cara e nada saudável nos bufetes, ignorância e grosseria nas relações humanas - tudo isso, e muito mais, que levaria demasiado tempo a ser enumerado, não deixa de me atingir menos do que a um qualquer vilão conhecido apenas na ruela em que mora. Em que consiste então a exclusividade da minha situação? Digamos que sou muitíssimo famoso, que sou um herói de que a minha pátria se orgulha, em todos os jornais se publicam relatórios sobre a minha doença, são-me enviadas cartas compadecidas de colegas, discípulos, do público em geral, mas tudo isso não me impedirá de morrer numa cama estranha, em angústia, numa solidão completa...Claro que ninguém tem culpa disso, mas, confesso, não gosto do meu nome popular. Parece-me que me enganou."

To my international readers ;)

"I am amused by the naivete with which I used in my youth to exaggerate the value of renown and of the exceptional position which celebrities are supposed to enjoy. I am famous, my name is pronounced with reverence, my portrait has been both in the Niva and in the Illustrated News of the World; I have read my biography even in a German magazine. And what of all that? Here I am sitting utterly alone in a strange town, on a strange bed, rubbing my aching cheek with my hand. . . . Domestic worries, the hard-heartedness of creditors, the rudeness of the railway servants, the inconveniences of the passport system, the expensive and unwholesome food in the refreshment-rooms, the general rudeness and coarseness in social intercourse — all this, and a great deal more which would take too long to reckon up, affects me as much as any working man who is famous only in his alley. In what way, does my exceptional position find expression? Admitting that I am celebrated a thousand times over, that I am a hero of whom my country is proud. They publish bulletins of my illness in every paper, letters of sympathy come to me by post from my colleagues, my pupils, the general public; but all that does not prevent me from dying in a strange bed, in misery, in utter loneliness. Of course, no one is to blame for that; but I in my foolishness dislike my popularity. I feel as though it had cheated me."

Agora de repente lembro-me de duas situações onde se podem ter inspirado nesta passagem:



(já me tinha esquecido como é irritante a voz desta pequena)


(Há uma cena neste filme que ela vai para o quarto sozinha chorar ou assim.)

2 comentários:

Anónimo disse...

Bea, vc não para de comer papel.

=]

giulianoquase

Anónimo disse...

Se aparecer aí um international reader de França, é apenas uma tuga temporariamente deslocada :)

Parabéns pelo blog, gosto bastante :)

Ana