sábado

A lei do compadrio

"O cinema Português é um filme em si mesmo que mistura os vários géneros: comédia, drama, acção e ficção. Olhando para a lista dos filmes menos vistos - já para não falar daqueles que foram subsidiados e nunca chegaram a uma sala pública - constata-se, por exemplo, que o Estado português contribuiu com um milhão de euros para dois filmes que juntos tiveram 571 espectadores. Falamos de Vanitas e Querença. O recordista negativo é Brumas, que nos três dias em que esteve em exibição teve a visita de 24 espectadores pagantes. Calcula-se que os actores, produtores. realizadores e demais intervenientes na feitura do mesmo não tenham famílias numerosas nem muitos amigos...
É usual dizer que um país que não tenha indústria cinematográfica é mais pobre. Nada mais certo, mas se a filosofia do cinema de autor é estar de costas voltadas para o público, que interesse existe em financiar filmes que não são vistos por ninguém? Quando se dá dinheiro a alguém para produzir algo que se identifique com a cultura portuguesa e o resultado final é tão incompreensível, como justificam os 'financiadores' os critérios seguidos? Não justificam porque não há razão alguma para tamanha discrepância, entre o dinheiro investido e o retorno. Apenas se percebe que a lei do compadrio fala mais alto. Não se exige que sejam um sucesso de bilheteira - Manoel de Oliveira não o é, por exemplo -, mas há valores mínimos exigíveis. Fazer filmes para os poucos amigos que têm não é, seguramente, um bom serviço público. Curiosamente, há realizadores que apostam em ver o seu trabalho reconhecido e têm alcançado o sucesso. Mesmo sem patrocínios do Estado. Recorrem a argumentos, muitas vezes, básicos: sexo e droga. Mas, apesar disso, fazem mais pelo cinema português - já que familiarizam o público com a sétima arte nacional - do que os autores que adoram falar para si mesmos."




2 comentários:

Pickles disse...

Tão tão verdade!

Sam Juliano disse...

De Oliveira is the long-running success story of any director in the history of film!

Thanks so much for stopping by Wonders in the Dark.

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