sábado

Tenho estado a ler Whitman...

"Tenho estado a ler whitman, sei o que ele diz, alegrai-vos, escravos, e aterrorizai os déspotas estrangeiros, quer dizer que é essa a atitude do Bardo, o bardo Lunático Zen dos antigos caminhos do deserto, 'tão a ver, a coisa toda resume-se a um mundo cheio de vadios de mochila às costas, Vagabundos do Dharma que se recusam a subscrever a exigência generalizada de terem de trabalhar pelo privilégio do consumo, já que consomem a produção, toda essa treta que eles de toda a maneira não pediram, como frigoríficos, televisores, automóveis, pelo menos automóveis novos e artilhados, uma certa marca de brilhantina para o cabelo e desodorizantes e de modo geral todo esse entulho que de qualquer forma acaba por ir parar ao lixo passada uma semana, todos eles aprisionados num sistema de trabalho, produção, consumo, trabalho, produção, consumo, tenho uma visão de uma grande revolução de mochilas, milhares ou mesmo milhões de jovens Americanos vagueando por toda a parte de mochilas às costas, a subir às montanhas para rezar, a fazer rir as crianças e a animar os velhotes, a contribuir para a felicidade das miúdas e para a suprema felicidade das senhoras, todos eles lunáticos zen que andam por ai a escrever poemas que por acaso lhes ocorrem por nenhuma razão em especial e também a serem amáveis e, por actos estranhos e inesperados, a transmitir a toda a hora visões de liberdade eterna, a toda a gente e a todos os seres vivos, é disso que eu gosto em vocês, Goldbook e Smith, dois tipos da Costa Leste que eu julgava morta."

The Dharma Bums - Jack Kerouac

4 comentários:

Plasticine disse...

É tão maravilhoso este homem e esse livro :) obrigada por passares lá no meu cantinho e sê sempre bem-vinda.

Paulo Assim disse...

Kerouac, o meu escritor preferido!
Li o Dharma Bums (tenho uma velha edição intitulada «Os vagabundos da verdade», mas de fraca tradução), li este livro, dizia, umas quantas vezes, geralmente pelo começar da primavera, e despoletava em mim uma fome de liberdade e de viagens e de escaladas pelas montanhas que não imaginam!
:)

Luis Baptista disse...

vim tarde mas a boas horas.
pois é, tenho estado a ler o teu blog!
fico ainda mais feliz agora com as palavras que deixaste no outro dia.
tanta coisa boa por aqui!

um beijo.

J. disse...

I make a pact with you, Walt Whitman -
I have detested you long enough.
I come to you as a grown child
Who has had a pig-headed father;
I am old enough now to make friends.
It was you that broke the new wood,
Now is a time for carving.
We have one sap and one root -
Let there be commerce between us.


A Pact by Ezra Pound.

:)