sexta-feira

Los nerviosos

"A senhora pertence a essa família magnífica e lamentável que é o sal da terra. Tudo o que conhecemos de grande vem-nos dos nervosos. Foram eles e não os outros que fundaram as religiões e compuseram as obras-primas. Nunca o mundo virá a saber tudo o que lhes deve e, sobretudo, o que eles sofreram para lho dar. Nós apreciamos as músicas puras, os quadros belos, mil delicadezas, mas não sabemos o que elas custaram aos que as inventaram, em insónias, em lágrimas, em gargalhadas espasmódicas, em urticárias, em asmas, em epilepsias, numa angústia de morte que é pior que tudo isso e da qual, minha senhora, talvez tenha conhecimento — acrescentou ele sorrindo para a minha avó —, porque, confesse, quando eu cheguei não estava muito tranquila. Julgava-se doente, talvez perigosamente doente. Deus sabe de que enfermidade acreditava descobrir sintomas em si. E não estava enganada, tinha-os. O nervosismo é um imitador de génio. Não há doença que ele não falsifique maravilhosamente. Ele imita sem tirar nem pôr a dilatação dos dispépticos, os enjoos da gravidez, a arritmia do cardíaco, a febre do tuberculoso. Capaz de enganar o médico, como é que não havia de enganar o doente?"


1 comentário:

Anónimo disse...

lindo sempre...